quinta-feira, 14 de agosto de 2014



''Bestiario do Amor'' -  Criaçao coletiva com o grupo de teatro intermediario da escola Spazio 14 em Trento-Italia.

Trabalhar com um texto dramatico pronto, muitas vezes ate de autores canonizados e trabalhar em um espetaculo criando inclusive a dramaturgia sao trabalhos muito diferentes. Criar uma cadeia de personagens, que tenham relacao entre si, que componham uma historia, transmitam uma verdade e uma historia verossimel nao é facil. Mas quem disse que queriamos algo facil?

O processo foi longo e o aprendizado foi imenso. Escrevemos, criamos figurinos, cenas, dialogos, discutimos muito, irritamos os diretores haha. O trabalho começou com um tema muito amplo, que por ser amplo foi dificil de fluir. ''Amor''. O amor em todas as suas formas, e principalmente o que este sentimento significa, o que traz de ''bestial'', de animalesco. Cada ator contribuiu com suas proprias experiencias pessoais sobre o tema, pesquisando tambem como o amor acontece no mundo animal. Nesse processo trouxemos as aulas objetos, historias, textos pelos quais tinhamos algum sentimento, ligacao afetiva, amor. Nao esperava sofrer um bloqueio logo no inicio do processo criativo. Parece banal, mas foi complicado escolher alguma coisa visto que sou uma pessoa muito desapegada materialmente e minhas experiencias com o que eu entendia por amor eram escarsas. O processo de pesquisa continuou e com o tempo consegui contribuir muito com a criacao da minha personagem e sinceramente me afeiçoei a ela. Era hora de criar seu passado, de criar para esse personagem uma consciencia, um fluxo de pensamento que me servisse de base para fazer um bom trabalho no palco. Criei, criei e nao foi a parte mais dificil. Dificil é o desapego. Sou meio contraditoria nao? Pois é, eu que nao me apego me apeguei ao personagem que tinha criado, completo, seu passado, presente, suas intencoes, sentimentos... mas quando passou pela avaliacao dos diretores faltava logica, coerencia em alguns pontos e foi muito dificil enxergar isso. Criar é facil, aceitar que sua criacao seja modificada por outra pessoa nem tanto.Muitas improvisaçoes que havia gostado como nasceram tambem tiveram que ser modificadas pro razos tecnicas teatrais, ate mesmo por questao de tempo, visto que quando foi concebido o espetaculo tinha a duracao de 2 horas.

Por fim, tive surpresas no palco. Tive que improvisar, cobrir falhas, e conter minha surpresa quando a plateia ria de cenas que nao foram concebidas para serem comicas. Dessa vez ninguem me perguntou se eu era argentina, haha... mas o sotaque ainda me entrega muito. Trabalho nisso com intensidade, como trabalho e ainda quero trabalhar muito mais para aperfeicoar tantas outras coisas.

Toda a fadiga do trabalho intenso foi recompensada pelos sorrisos deles. Sao esses momentos que me fazem sentir que minha existencia tem uma grande utilidade. Sim, ser ator é um motivo enorme para abrir os olhos de manha.

Tenho somente a agradecer a escola de teatro que me recebeu aqui na Italia e a paciencia deles com minhas dificuldades particulares, minha familia na Italia, minha irma e meu cunhado. Tenho somente a agradecer a vida pela oportunidade e a mim mesma por aceita-las.


sábado, 23 de novembro de 2013

Teatro? Por que?

Como é dificil quando alguem pergunta isso. Como é dificil ''levar o coraçao a boca'' como diria Cordelia (Rei Lear-Shakesperare), mas com muito esforço consegui responder a mim e a todos: Teatro, Por que?

È por satisfaçao pessoal. È por aquela emocao inominavel antes de entrar no palco. Por aquela sensacao de  ouvir os aplausos, vibracoes que entram pelos ouvidos e repousam sobre todo o corpo. É por aquele olhar fixo do espectador que segura o coracao nos olhos. È pela esperança de tocar o intimo da humanidade e transforma-la de dentro para fora. É pela chance de salvar a vida de quem nao sabe que esta quase morrendo... na rotina, no vazio, se afogando nas superficies do mundo. É para abrir olhos, incomodar acomodados. É para alimentar almas.


Quando estamos estudando, aprendendo tecnicas teatrais, jogando com nossos colegas atores, quando fazemos um ensaio final de um espetaculo nos divertimos, nos conhecemos, evoluimos... Mas quando se entra no palco e o publico esta ali, aquele ‘’aqui e agora’’ se tornam incriveis. Sinto uma responsabilidade imensa de trazer brilho para vida daquelas pessoas que sairam de casa na esperaça de se sentirem mais vivas. E é por isso que a vida que vivo nos palcos sera sempre melhor que a minha. Nao me vejo sendo tao humana e tao desapegada de mim mesmo na ‘vida real’ a ponto de pensar exclusivamente em trazer mais vida para a vida das outras pessoas. E dou e darei sempre meu melhor para que as vidas que vivo sob os refletores sejam intensas, repletas,que trasbordem e cheguem até os espectadores.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ola queridos, criei esse blog pois sinto alegria e necessidade de compartilhar meus sentimento e conhecimentos adquiridos durante minha vida e aprendizado no teatro, com o teatro e pelo teatro. Agradeco a cada pessoa que faz parte deste mundo e que me apoiou e apoia mesmo distantes. Agradeco o N.A.F.T que mesmo distante continua sendo meu grupo, minha familia teatral. 

01, novembro de 2013 - Trento -  Italia

Acabei de concluir uma coisa: A atitude positiva, o aprender a dizer sim è uma das coisas fundamentais para o ator. Com isso subentendemos tantas outras coisas, subentendemos a aceitacao do que nos è proposto e um modo de encarar nao apenas o jogo mas a vida. Dizer ‘’ eu nao consigo’’ nao pode absolutamente fazer parte do nosso vocabulario. Temos nossas limitacoes, mas nao podemos esquecer que afinal de contas elas foram desenhadas por nos mesmos. O dizer sim tambem compreende em nao se fechar; se o ator se fecha/se bloqueia,  o jogo nao flui, a dinamica cai. ‘’ Esse exercicio è dificil para mim’’ que otimo! È aprendendo a enxergar a nos mesmos que conseguimos detectar os pontos que precisam ser melhor trabalhados. E tenhamos consciencia de que o fato de termos um corpo, e de estarmos dispostos (sim) a conhece-lo para depois molda-lo, para depois conseguirmos desenhar nossos personagens atraves dele è a mais sublime excelencia da nossa profissao. Sim, nos somos a tela em branco, mas somos tambem o pintor, temos dentro de nos as tintas e a capacidade/habilidade de pintarmos qualquer coisa. De fato, se refletirmos, nascemos dizendo sim e aprendemos a dizer nao durante a vida.
Essa semana tambem aprendi que no teatro o outro é mais importante que voce, que o outro ao mesmo tempo que é seu apoio, seu refugio espera que voce tambem seja um apoio e um refugio para ele. E dentro desse jogo onde um abre a porta e o outro passa, onde um erra a fala e o outro improvisa, onde diferentes energias de tornam uma unica energia, onde uma lingua estranha e imcompreensivel se torna a lingua de todos... etc... nesse mundo escolhi construir minha casa, nesse mundo vivo feliz e intensamente e acolho todos os meus vizinhos como irmaos.
 E que quando dizemos ‘’nao’’ esse nao seja um sim, cheio de conviccao e certeza.